Pesquisar neste blog

domingo, 31 de maio de 2009

O Tempo da nossa Alegria (Jo 20,19-23) (31/05/09)

Faz ainda pouco tempo que celebramos a grande Solenidade, a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Daquele domingo festivo até estes dias em que estamos nos preparando para receber o Dom de Deus, celebramos um só e único mistério. Quanta beleza nos foi manifestada durante estes dias de Aleluia, de perfeita alegria no Senhor Ressuscitado!

Para dois dos seus discípulos Ele se fez companheiro e caminhou com eles. Conversaram sobre o amor de Deus que lhes tinha oferecido seu Filho, morto numa cruz. Caminhando e falando das coisas do alto, aquecia seus corações, mas somente no partir o pão, deu-se a conhecer na sua totalidade. A reação destes dois discípulos foi a de retornar pelo mesmo caminho e testemunhar com o anúncio de que "Ele está vivo e apareceu para nós enquanto caminhávamos".

Maria Madalena, que O acompanhou em sua peregrinação nesta terra, O vê sem reconhecer aquele que lhe falava. Somente quando é chamada pelo nome, reconhece que aquele homem não era o jardineiro. Quanta alegria experimentou esta mulher em falar com o seu Senhor, que estava morto, mas ressuscitou! Maria Madalena era a primeira mulher a receber esta manifestação de Deus em seu Cristo vivo.

Mas onde estava Maria, a Mãe deste Deus encarnado? Como não pensar que Ele fora ao seu encontro para tranqüilizar aquele coração aflito e pleno de dor?

Maria não foi procurada, porque certamente não estava escondida. Não foi consolada, porque com toda a certeza ela experimentara no seu silêncio a presença do seu Filho, que vive.

Maria não se encontrava mergulhada mais na dor daquele momento em que com Cristo foi crucificada, porque naturalmente meditava tudo em seu coração e muito antes experimentara esta vida renovada no anúncio que lhe fizera o Anjo. Estava preparada para este momento, porque o velho Simeão a advertira, dizendo que "uma espada de dor traspassará sua alma". Mesmo assim, ela sabia que Deus não viria a este mundo somente para passar sem deixar sua marca, sua presença através daqueles que O amavam. Ela O amava. Não somente como Mãe, mas como Discípula. Não somente como a escolhida, mas porque aderiu à escolha de Deus e se tornou missionária.

Foi Maria, a mãe do Senhor, que imediatamente correu ao encontro de sua prima anciã. Chegou apressadamente não como mãe de Deus, mas como humilde serva. Esteve com Isabel para servir. Em seu serviço, certamente Deus se manifestara a Isabel, que exclama em alta voz: "Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?"

Isabel reconhece aquele momento. O Filho que traz no ventre, reconhece uma presença e salta de alegria em seu seio. Este momento de exultação revela neste encontro o primeiro anúncio de que Deus se fez presença.

Maria e Isabel, reconhecendo a grandeza de Deus, O louvam cantando o Magnificat. Ao contrário, Zacarias não se deixa tocar pelo mistério e perde a voz. O seu mutismo é uma necessidade para maturar este mistério. Ele precisa de tempo. O tempo de uma gestação, para nascer de novo e ter sua fé renovada no seu Deus. Deus deu-lhe o tempo necessário, porque é Senhor do tempo e da história de cada homem e mulher.

Zacarias volta a falar somente quando compreende o Mistério ali presente. Sua voz se faz ouvir somente quando ele contempla o Mistério de Deus e o acolhe no mistério de sua via. O que se passava no coração deste homem, que perde a voz e está mergulhado na intimidade do próprio coração? Vamos ter uma resposta sensata, somente quando experimentarmos o que ele experimentou. Esta experiência nos é possível através de nossa fé. Somente num percurso de silêncio e de acolhida do Mistério, vamos mergulhar no coração deste homem para com ele bendizer o Nome de Deus, que manifesta o seu poder.

A Ressurreição do Senhor é o centro de tudo o que podemos celebrar. É o centro da nossa fé. O começo e o fim da nossa existência. Se falarmos do nascimento do Senhor, estaremos já nos preparando para este momento de Ressurreição. Se mencionarmos a sua morte, será para aderirmos à sua Ressurreição. Da Encarnação à Ressurreição, o Mistério é o mesmo. É preciso abertura de coração para acolher e viver este Mistério na fé.

Reconhecer esta presença de Deus, que se fez um conosco, nos impulsiona a testemunhar e testemunhando anunciar que Ele esteve morto, mas agora vive. Que foi por nós, pregado numa Cruz, mas que para nossa salvação, ressuscita glorioso. Vem de Deus para nos trazer Deus. Volta para Deus para nos levar consigo até Deus.

"Se eu não for para junto do Pai, não poderei enviar-lhes o Dom do Pai". Se eu não voltar para o meu Pai, não poderei levá-los para junto do meu Pai. É necessária esta passagem. Fez-se necessária a sua morte. Foi uma realidade este evento, é necessária total acolhida da nossa parte para recebermos o Dom do Pai. O Espírito Santo nos é oferecido para que vivamos no hoje da nossa história a alegria plena, pela certeza de que já fomos salvos pelo Cristo de Deus.

Quanto mistério nos envolve, quanta presença de Deus nos foi manifestada durante estes dias jubilosos! É da Cruz que nasce a Igreja. Do lado aberto do Senhor somos todos purificados, mas é do Espírito que o Pai nos envia, que temos força, coragem e entusiasmo para testemunhar este grandioso mistério. É Pentecostes o novo marco da nossa história pessoal e eclesial. É pelo Espírito Santo que nascemos para Deus. Através do Espírito de Cristo, somos configurados a Ele e nos empenhamos no caminho da virtude. É o Espírito Santo que como Dom do Pai, transforma nossa tristeza em perfeita alegria, que nos oferece a vitória através da Cruz. "Se com Ele morremos, com Ele ressuscitaremos".

Somos hoje Maria, que acolhe o anúncio e imediatamente se coloca a serviço de quem necessita do nosso auxílio. Somos Maria Madalena, que tem o coração transformado pelo amor do seu Senhor, para no amor Dele transformar em alegria a tristeza de nossos irmãos. Somos Isabel, geradora de vida mesmo na velhice, quando nosso coração se abre para acolher a novidade da salvação que nos é oferecia. Somos ainda Zacarias, mergulhado num profundo e misterioso silêncio para compreender a realidade visível de um Deus invisível. Somos por fim, Igreja viva, sustentada e orientada pela ação do Espírito de Deus. O Dom de Deus que vai nos transformar e nos fará testemunhar que Cristo vive entre nós, é a alegria de pertencermos do Corpo Místico de Cristo, que vive e reina para sempre, aquecendo o nosso coração a caminho do novo Emaús, que nos leva a partilhar o pão do céu.

Pela alegria de servir, pelo júbilo de um encontro com o Senhor, pela certeza de sua presença transformadora e pelo mergulho da fé no Mistério de Deus, vamos anunciar pela nossa vida, que Cristo ressuscitou e vive entre nós. Que somos outros "Cristos" testemunhando a graça, o amor e o Dom de Deus no mistério de Pentecostes.

 

Dom Bento de Souza (monge beneditino e presbítero do Mosteiro da Ressurreição de Ponta Grossa/PR)

bentoosb@yahoo.com.br

www.reflexaoliturgiadiaria.blogspot.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário